{"id":1640,"date":"2017-01-20T23:13:59","date_gmt":"2017-01-21T01:13:59","guid":{"rendered":"https:\/\/www.clariceabreu.com.br\/?p=1640"},"modified":"2025-08-12T23:22:09","modified_gmt":"2025-08-12T23:22:09","slug":"reconstrucao-de-orelha","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/clariceabreu.com.br\/pt_br\/reconstrucao-de-orelha\/","title":{"rendered":"Reconstru\u00e7\u00e3o de Orelha"},"content":{"rendered":"\n

Anatomia normal de uma Orelha<\/strong><\/p>\n\n\n\n

A anatomia de superf\u00edcie da orelha \u00e9 complexa, com eleva\u00e7\u00f5es e depress\u00f5es respons\u00e1veis pelo seu contorno caracter\u00edstico. Os componentes principais da orelha s\u00e3o: helix (curvatura maior e mais externa), anti-helix (eleva\u00e7\u00e3o interna que se ramifica em cruz superior e cruz inferior), escafa (que \u00e9 a fossa entre a helix e a anti-helix), concha (cartilagem que forma a base da orelha), CAE (conduto auditivo ou meato auditivo externo), tragus (muito usado na cirurgia de face) e uma estrutura oposta ao tragus, chamada de antitragus. O l\u00f3bulo da orelha localiza-se inferiormente e n\u00e3o possui cartilagem.<\/p>\n\n\n\n

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Anatomia de superf\u00edcie da orelha com os elementos principais que caracterizam seu contorno.<\/figcaption><\/figure><\/div>\n\n\n\n

Embriologia b\u00e1sica da Orelha<\/strong><\/p>\n\n\n\n

A orelha come\u00e7a a ser formada em torno do 2\u00b0 m\u00eas de gesta\u00e7\u00e3o, a partir de 6 proje\u00e7\u00f5es mesenquimais, chamadas tub\u00e9rculos ou brotos embrion\u00e1rios, que surgem no 1\u00ba e no 2\u00ba arcos branquiais. As 3 proje\u00e7\u00f5es no arco mandibular (1\u00ba arco), ou brotos 1, 2 e 3, v\u00e3o formar o tragus, a raiz da helix e o 1\/3 proximal da helix. J\u00e1 as 3 proje\u00e7\u00f5es do arco hi\u00f3ideo (2\u00ba arco), brotos 4, 5 e 6, correspondem \u00e0 forma\u00e7\u00e3o dos 2\/3 distais da helix, da anti-helix, do antitragus e do l\u00f3bulo.<\/p>\n\n\n\n

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Esquema da forma\u00e7\u00e3o da orelha a partir dos brotos embrion\u00e1rios do 1\u00ba e do 2\u00ba arcos branquiais<\/figcaption><\/figure><\/div>\n\n\n\n

Sobre a reconstru\u00e7\u00e3o de Orelha<\/strong><\/p>\n\n\n\n

A reconstru\u00e7\u00e3o da orelha pode ser necess\u00e1ria quando h\u00e1 um defeito cong\u00eanito de sua forma\u00e7\u00e3o ou quando a orelha era normal, mas sofreu algum tipo de trauma que alterou sua conforma\u00e7\u00e3o natural.<\/p>\n\n\n\n

A reconstru\u00e7\u00e3o total da orelha com tecido aut\u00f3geno (do pr\u00f3prio paciente) representa um desafio t\u00e9cnico para o cirurgi\u00e3o, pois a anatomia complexa da orelha com curvaturas de cartilagem el\u00e1stica delicada cobertas por um envelope fino de pele \u00e9 muito dif\u00edcil de se reproduzir cirurgicamente.<\/p>\n\n\n\n

Ao longo dos anos, diversos cirurgi\u00f5es forneceram in\u00fameras contribui\u00e7\u00f5es para o desenvolvimento da t\u00e9cnica de reconstru\u00e7\u00e3o de orelha. A maioria dos autores dividem a reconstru\u00e7\u00e3o de orelha em m\u00faltiplos est\u00e1gios, realizando a reconstru\u00e7\u00e3o usualmente em 2 ou 4 tempos operat\u00f3rios, conforme a t\u00e9cnica selecionada. Essa divis\u00e3o decorre da complexidade da anatomia de superf\u00edcie da orelha e tamb\u00e9m da necessidade de se recobrir com pele os dois lados (anterior e posterior) da orelha reconstru\u00edda, para que ela possa ser liberada da cabe\u00e7a, mimetizando a proje\u00e7\u00e3o do lado contra-lateral normal.<\/p>\n\n\n\n

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O uso de material sint\u00e9tico<\/strong><\/p>\n\n\n\n

Desde 1966, quando Cronin introduziu o uso de um arcabou\u00e7o de silicone para reconstruir a orelha, diversos outros materiais foram tamb\u00e9m desenvolvidos e testados. Entre eles, pode-se citar o polietileno poroso (Medpor\u00ae), tela de nylon, de Marlex, de poli\u00e9ster e de Teflon. Todos esses implantes inorg\u00e2nicos, no entanto, constituem corpos estranhos que quando colocados sob uma pele fina e vulner\u00e1vel tendem a levar a complica\u00e7\u00f5es tardias, como altas taxas de infec\u00e7\u00e3o, necrose da pele e extrus\u00e3o do material, mesmo quando se utilizam retalhos fasciais para sua cobertura.<\/p>\n\n\n\n

Esse risco elevado de exposi\u00e7\u00e3o do material e infec\u00e7\u00e3o local fez com que o uso de material sint\u00e9tico para a reconstru\u00e7\u00e3o de orelha fosse contra-indicado. A cartilagem costal aut\u00f3gena esculpida permanece o material mais confi\u00e1vel que produz os resultados com o menor n\u00famero de complica\u00e7\u00f5es a longo prazo, sendo ainda a fonte mais substancial para a fabrica\u00e7\u00e3o de um arcabou\u00e7o auricular total.<\/p>\n\n\n\n

Qual a idade ideal para realizar uma reconstru\u00e7\u00e3o de orelha em crian\u00e7a?<\/strong><\/p>\n\n\n\n

Apesar da ansiedade dos pais e da pr\u00f3pria crian\u00e7a, a orelha n\u00e3o deve ser operada antes dos 7 anos de idade. Antes desse per\u00edodo, a orelha ainda se encontra em crescimento e qualquer tentativa de reconstru\u00e7\u00e3o n\u00e3o vai ser precisa em mimetizar o tamanho definitivo que a orelha ainda vai alcan\u00e7ar.<\/p>\n\n\n\n

Quando a cirurgia envolve a reconstru\u00e7\u00e3o total ou quase total da orelha, envolvendo a cria\u00e7\u00e3o dos seus v\u00e1rios relevos, a reconstru\u00e7\u00e3o normalmente \u00e9 realizada ap\u00f3s os 9-10 anos de idade, dependendo da altura e do desenvolvimento corporal da crian\u00e7a. Dessa forma, garante-se que n\u00e3o apenas a orelha ter\u00e1 atingido seu tamanho final, como tamb\u00e9m o grau de desenvolvimento do t\u00f3rax ser\u00e1 maior, permitindo a retirada de quantidade suficiente de cartilagem doadora.<\/p>\n\n\n\n

Fun\u00e7\u00e3o auditiva<\/strong><\/p>\n\n\n\n

Em casos de malforma\u00e7\u00e3o da orelha, como por exemplo nas microtias, os pais est\u00e3o geralmente preocupados com a quest\u00e3o da audi\u00e7\u00e3o. Eles acreditam que a crian\u00e7a seja ou completamente surda do lado afetado ou que a audi\u00e7\u00e3o possa ser restabelecida simplesmente realizando um orif\u00edcio na pele.<\/p>\n\n\n\n

\u00c9 importante esclarecer que o sistema auditivo \u00e9 complexo, constitu\u00eddo pelas orelhas externa, m\u00e9dia e interna e pelas vias auditivas no sistema nervoso central. De fato, nas microtias o canal auditivo pode estar parcialmente ou at\u00e9 completamente ausente e ainda que o nervo auditivo seja normal, a condu\u00e7\u00e3o sonora pode estar diminu\u00edda, prejudicando a fun\u00e7\u00e3o auditiva.<\/p>\n\n\n\n

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Sistema auditivo com seus componentes externo, m\u00e9dio e interno.<\/figcaption><\/figure><\/div>\n\n\n\n

No entanto, como o ouvido interno (receptivo) \u00e9 derivado de um tecido embriol\u00f3gico diferente do tecido da orelha externa e m\u00e9dia (por\u00e7\u00e3o condutiva), o ouvido interno raramente \u00e9 envolvido (apenas 10% dos casos) e os pacientes apresentam pelo menos alguma audi\u00e7\u00e3o no lado afetado. O problema est\u00e1 na condu\u00e7\u00e3o, que est\u00e1 bloqueada pela malforma\u00e7\u00e3o do complexo m\u00e9dio e externo da orelha.<\/p>\n\n\n\n

No caso de ambas as orelhas estarem afetadas por microtia e ambos os canais estarem ausentes, a audi\u00e7\u00e3o deve ser assistida por um aparelho auditivo.<\/p>\n\n\n\n

Quando apenas uma orelha \u00e9 afetada, a fun\u00e7\u00e3o auditiva pode ser pr\u00f3xima do normal, mas n\u00e3o \u00e9 estereof\u00f4nica. A reconstru\u00e7\u00e3o cir\u00fargica do canal auditivo e do t\u00edmpano geralmente leva a resultados desapontadores. Pode ser aconselh\u00e1vel, em casos de fun\u00e7\u00e3o auditiva pobre, colocar um Aparelho Auditivo Ancorado ao Osso (ou Bone-Anchored Hearing Aid \u2013 BAHA), mas o local de sua implanta\u00e7\u00e3o deve ser muito bem planejado para que n\u00e3o prejudique uma poss\u00edvel reconstru\u00e7\u00e3o de orelha.<\/p>\n\n\n\n

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Esquema de funcionamento e implanta\u00e7\u00e3o de um aparelho auditivo ancorado ao osso (BAHA).<\/figcaption><\/figure><\/div>\n\n\n\n

Anaplastologia<\/strong><\/p>\n\n\n\n

A anaplastologia \u00e9 a ci\u00eancia que estuda a reconstru\u00e7\u00e3o de segmentos do corpo humano com pr\u00f3teses est\u00e9ticas de silicone para pacientes que tenham perdas corporais causadas por traumas, malforma\u00e7\u00f5es cong\u00eanitas ou pacientes oncol\u00f3gicos.<\/p>\n\n\n\n

Embora o melhor tratamento para reconstruir uma orelha ainda seja a reconstru\u00e7\u00e3o aut\u00f3loga com cartilagem costal, em alguns casos extremos n\u00e3o encontramos condi\u00e7\u00f5es locais para realizar uma reconstru\u00e7\u00e3o de orelha. Isso se d\u00e1 principalmente em casos de queimaduras graves ou ressec\u00e7\u00f5es extensas de tumores, com perda total ou quase total da orelha, em que a pele remanescente tamb\u00e9m se encontra comprometida, prejudicando a cobertura cut\u00e2nea necess\u00e1ria para um arcabou\u00e7o de cartilagem.<\/p>\n\n\n\n

Dessa forma, quando n\u00e3o h\u00e1 possibilidade de reconstru\u00e7\u00e3o cir\u00fargica, a coloca\u00e7\u00e3o de uma pr\u00f3tese externa implant\u00e1vel pode ser uma alternativa satisfat\u00f3ria para restabelecer a anatomia e est\u00e9tica local.<\/p>\n\n\n\n

DEFORMIDADES CONG\u00caNITAS<\/strong><\/h2>\n\n\n\n

Todas as malforma\u00e7\u00f5es cong\u00eanitas que cursam com altera\u00e7\u00f5es do 1\u00ba arco (mandibular) ou do 2\u00ba arco (hi\u00f3ideo) branquial podem cursar com deformidades de orelha associadas.  A deformidade cong\u00eanita mais comum que necessita de reconstru\u00e7\u00e3o de orelha \u00e9 a microtia, que pode ser isolada ou fazer parte de alguma s\u00edndrome craniofacial.<\/p>\n\n\n\n

O que \u00e9 Microtia?<\/strong><\/p>\n\n\n\n

Microtia significa literalmente \u201corelha pequena\u201d (micro=pequeno, otia=orelha). Designa a malforma\u00e7\u00e3o de orelha que acomete o pavilh\u00e3o auricular, podendo apresentar variadas altera\u00e7\u00f5es de seu tamanho e forma.<\/p>\n\n\n\n

Apresenta uma incid\u00eancia aproximada de 1 para cada 6000 nascimentos. Tem uma heran\u00e7a multifatorial na grande maioria dos casos, existindo um fator familiar associado em apenas cerca de 5% dos casos. \u00c9 duas vezes mais frequente em meninos que em meninas e a raz\u00e3o de acometimento do lado direito, do lado esquedo e do acometimento bilateral \u00e9 de 6:3:1.<\/p>\n\n\n\n

Na maioria dos casos, o l\u00f3bulo \u00e9 deslocado superiormente em rela\u00e7\u00e3o ao lado oposto normal, embora ocasionalmente uma miga\u00e7\u00e3o incompleta da orelha deixe o l\u00f3bulo em uma posi\u00e7\u00e3o inferior. Cerca de 1\/3 a metade dos pacientes com microtia apresentam caracter\u00edsticas de microssomia hemifacial (discutida em outro t\u00f3pico).<\/p>\n\n\n\n

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Esquema e exemplo cl\u00ednico de uma microtia \u00e0 direita.<\/figcaption><\/figure><\/div>\n\n\n\n

Etiologia<\/strong><\/p>\n\n\n\n

Alguns autores acreditam que a causa do desenvolvimento de deformidades auriculares resultaria de uma isquemia tecidual intra-\u00fatero. Isso fala a favor da deformidade surgir a partir de um problema durante o desenvolvimento fetal e n\u00e3o de uma causa heredit\u00e1ria. De fato, podemos encontrar pacientes com microtias cujo irm\u00e3o g\u00eameo id\u00eantico apresenta orelhas normais.<\/p>\n\n\n\n

O uso de algumas drogas, como talidomida, isotretino\u00edna e \u00e1cido retin\u00f3ico, no primeiro trimestre de gesta\u00e7\u00e3o tamb\u00e9m pode ser respons\u00e1vel por casos de microtia.<\/p>\n\n\n\n

T\u00e9cnica cir\u00fargica atual<\/strong><\/p>\n\n\n\n

Independente da natureza da condi\u00e7\u00e3o ou do defeito, o objetivo b\u00e1sico da cirurgia \u00e9 tentar reconstruir os contornos de uma orelha normal. Como a orelha tem uma forma complexa, um arcabou\u00e7o cartilaginoso de suporte firme precisa ser usado para que os contornos possam ser reproduzidos de forma adequada.<\/p>\n\n\n\n

Atualmente, a t\u00e9cnica de reconstru\u00e7\u00e3o da orelha que utilizamos \u00e9 realizada em dois tempos, segundo proposto por Nagata e modificado por Firmin. Essa divis\u00e3o da cirurgia em dois tempos se d\u00e1 principalmente porque em geral n\u00e3o \u00e9 poss\u00edvel cobrir os dois lados do arcabou\u00e7o cartilaginoso com a pele da orelha deformada. Por conta disso, um enxerto de pele \u00e9 usado no segundo tempo da cirurgia para poder soltar o arcabou\u00e7o da cabe\u00e7a e criar o novo sulco retroauricular.<\/p>\n\n\n\n

Costuma-se esperar de 4 a 6 meses, no m\u00edmino, entre a primeira e a segunda cirurgia, para que a pele esteja totalmente adaptada ao novo arcabou\u00e7o e o arcabou\u00e7o bem integrado ao organismo, o que permite a libera\u00e7\u00e3o em sua face posterior e coloca\u00e7\u00e3o da pele necess\u00e1ria para confeccionar o neosulco.<\/p>\n\n\n\n

Alguns retoques e cirurgia menores complementares podem ser necess\u00e1rios para melhorar os relevos da nova orelha, bem como realizar a pefura\u00e7\u00e3o do arcabou\u00e7o na regi\u00e3o do l\u00f3bulo para permitir o uso de brincos.<\/p>\n\n\n\n

Primeiro tempo<\/strong><\/p>\n\n\n\n

O primeiro est\u00e1gio de uma reconstru\u00e7\u00e3o de orelha corresponde \u00e0 retirada de cartilagem costal e a confec\u00e7\u00e3o de um arcabou\u00e7o cartilaginoso que vai mimetizar os relevos de uma orelha normal.<\/p>\n\n\n\n

Normalmente realizamos uma incis\u00e3o na regi\u00e3o costal do mesmo lado da orelha acometida, medindo de 6 a 8cm posicionada de forma obl\u00edqua. A retirada das cartilagens costais n\u00e3o causa deformidade tor\u00e1cica significativa e n\u00e3o pode ser usada como justificativa para n\u00e3o se indicar a cirurgia.<\/p>\n\n\n\n

Ap\u00f3s a confec\u00e7\u00e3o do arcabou\u00e7o, ele \u00e9 posicionado sob a pele da regi\u00e3o auricular do lado afetado. Drenos de aspira\u00e7\u00e3o cont\u00ednua s\u00e3o colocados na regi\u00e3o auricular. Um pequeno fragmento de cartilagem costal \u00e9  separado e colocado de volta sob a pele da regi\u00e3o costal para ser utilizado no segundo tempo como suporte para a eleva\u00e7\u00e3o do arcabou\u00e7o cartilaginoso. A regi\u00e3o costal geralmente n\u00e3o necessita ser drenada.<\/p>\n\n\n\n

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Esquema da retirada de cartilagem costal para confe\u00e7\u00e3o do arcabou\u00e7o cartilaginoso<\/figcaption><\/figure><\/div>\n\n\n\n
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Exemplo de um arcabou\u00e7o de orelha reconstru\u00eddo a partir de cartilagem retirada da costela<\/figcaption><\/figure><\/div>\n\n\n\n

Segundo tempo<\/strong><\/p>\n\n\n\n

O segundo est\u00e1gio da reconstru\u00e7\u00e3o da orelha corresponde \u00e0 eleva\u00e7\u00e3o do arcabou\u00e7o cartilaginoso, liberando o complexo auricular da cabe\u00e7a com a recria\u00e7\u00e3o do espa\u00e7o atr\u00e1s da orelha. Esse espa\u00e7o atr\u00e1s da orelha \u00e9 chamado de sulco retro-auricular.<\/p>\n\n\n\n

O intervalo entre as duas cirurgias varia de 4 a 6 meses, dependendo da situa\u00e7\u00e3o espec\u00edfica do paciente.  Durante a primeira cirurgia, a cartilagem costal \u00e9 retirada e esculpida e colocada abaixo da pele. Assim que esse primeiro tempo for realizado, todos os contornos da orelha v\u00e3o ser reproduzidos, mas n\u00e3o vai haver espa\u00e7o atr\u00e1s da orelha. Quando vista de perfil, a orelha reconstru\u00edda parace ser normal, mas ela n\u00e3o se projeta da cabe\u00e7a como a orelha normal. A cria\u00e7\u00e3o do sulco retro-auricular durante o segundo est\u00e1gio da cirurgia \u00e9 realizada inicialmente com a libera\u00e7\u00e3o do arcabou\u00e7o cartilaginoso. Em seguida, o fragmento de cartilagem costal guardado sob a pele na regi\u00e3o tor\u00e1cica \u00e9 retirado e utilizado como suporte para manter a proje\u00e7\u00e3o do arcabou\u00e7o liberado. Nesse momento, pode ser feita uma revis\u00e3o da cicatriz da regi\u00e3o tor\u00e1cica caso seja necess\u00e1ria. \u00c9 retirado, ent\u00e3o, um enxerto de pele para cobertura da regi\u00e3o posterior do complexo auricular.<\/p>\n\n\n\n

A libera\u00e7\u00e3o do complexo auricular nos permite assegurar que a proje\u00e7\u00e3o de ambas as orelhas vai ser semelhante quando vistas de frente.<\/p>\n\n\n\n

Quais os riscos e complica\u00e7\u00f5es poss\u00edveis de uma reconstru\u00e7\u00e3o de orelha?<\/strong><\/p>\n\n\n\n

Todo procedimento cir\u00fargico envolve riscos e poss\u00edveis complica\u00e7\u00f5es e as cirurgias para reconstruir uma orelha n\u00e3o est\u00e3o isentas dessas vari\u00e1veis.<\/p>\n\n\n\n

Alguns fatores n\u00e3o s\u00e3o considerados complica\u00e7\u00f5es, embora causem uma limita\u00e7\u00e3o transit\u00f3ria para a crian\u00e7a. Entre esses fatores, destaco a dor tor\u00e1cica relacionada \u00e0 retirada de cartilagem das costelas, levando a um afastamento obrigat\u00f3rio de atividades f\u00edsicas por um per\u00edodo vari\u00e1vel de 4 a 6 semanas.<\/p>\n\n\n\n

Entre as complica\u00e7\u00f5es da reconstru\u00e7\u00e3o de orelha, destaco: pneumot\u00f3rax (entrada de ar no espa\u00e7o pleural por les\u00e3o da pleura parietal \u2013 externa \u2013 durante a retirada da cartilagem costal), perda do arcabou\u00e7o cartilaginoso por causa de infec\u00e7\u00e3o, necrose dos retalhos de pele e hematoma. A perda em grau vari\u00e1vel do contorno do arcabou\u00e7o cartilaginoso pode ocorrer ainda como consequ\u00eancia de reabsor\u00e7\u00e3o da cartilagem e\/ou retra\u00e7\u00e3o cicatricial da pele que recobre a cartilagem.<\/p>\n\n\n\n

Outras condi\u00e7\u00f5es associadas a malforma\u00e7\u00e3o cong\u00eanita da orelha<\/strong><\/h2>\n\n\n\n

Microssomia hemifacial<\/strong><\/p>\n\n\n\n

Quando h\u00e1 uma deformidade de orelha acompanhada de crescimento anormal (geralmente um lado cresce menos que o outro) da mand\u00edbula, resultando em assimetria facial. A microssomia hemifacial \u00e9 discutida mais detalhadamente em outro t\u00f3pico do site.<\/p>\n\n\n\n

S\u00edndrome de Goldenhar<\/strong><\/p>\n\n\n\n

Somada \u00e0s altera\u00e7\u00f5es que ocorrem na microssomia hemifacial, h\u00e1 ainda uma anomalia nos olhos, geralmente um coloboma palpebral. Trata-se de uma apresenta\u00e7\u00e3o cl\u00ednica mais grave de microssomia hemifacial.<\/p>\n\n\n\n

S\u00edndrome de Treacher Collins<\/strong><\/p>\n\n\n\n

Quando h\u00e1 defeitos faciais espec\u00edficos, envolvendo a \u00f3rbita, os malares, a maxila e a mand\u00edbula, com microtia geralmente bilateral. A S\u00edndrome de Treacher Collins \u00e9 discutida mais detalhadamente em outro t\u00f3pico do site.<\/p>\n\n\n\n

Deformidades Faciais Complexas<\/strong><\/p>\n\n\n\n

Quando a microtia \u00e9 apenas uma de v\u00e1rias deformidades da face e \u00e0s vezes do cr\u00e2nio, como por exemplo, nas fissuras raras de face. As fissuras raras da face s\u00e3o discutidas em outro t\u00f3pico do site.<\/p>\n\n\n\n

Defeitos Menores<\/strong><\/p>\n\n\n\n

Quando a orelha est\u00e1 presente, por\u00e9m de forma anormal. Pode ocorrer altera\u00e7\u00e3o da curvatura, forma e tamanho da helix, ou outras \u00e1reas espec\u00edficas da anatomia do pavilh\u00e3o auricular.<\/p>\n\n\n\n

Deformidades de orelha adquiridas ou p\u00f3s-traum\u00e1ticas<\/strong><\/p>\n\n\n\n

Ocorrem ap\u00f3s acidentes ou cirurgias, com amputa\u00e7\u00f5es parciais a totais da orelha. Geralmente se associam a ferimentos cortantes (acidentes com facas, por ex.) , ressec\u00e7\u00f5es tumorais, mordeduras de animais ou at\u00e9 mesmo mordedura humana (em brigas, por ex.) e queimaduras.<\/p>\n\n\n\n

Les\u00e3o parcial<\/strong><\/p>\n\n\n\n

Les\u00e3o parcial do pavilh\u00e3o auricular, normalmente acometendo parte da helix e antihelix, em maior ou menor extens\u00e3o. Pode, algumas vezes, ser reconstru\u00edda com retalhos locais da pr\u00f3pria orelha remanescente, por\u00e9m nesses casos invariavelmente vai reduzir o tamanho global da orelha.<\/p>\n\n\n\n

Les\u00e3o total ou quase total<\/strong><\/p>\n\n\n\n

Avuls\u00e3o ou arrancamento de toda ou quase toda a orelha. Geralmente dif\u00edcil de reconstruir, exige a confec\u00e7\u00e3o de todo o molde cartilaginoso. A condi\u00e7\u00e3o da pele remanescente na regi\u00e3o auricular vai determinar a viabilidade da reconstru\u00e7\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

Les\u00f5es que podem se extender para tecidos adjacentes \u00e0 orelha<\/strong><\/p>\n\n\n\n

Algumas les\u00f5es como queimaduras e sequelas de radioterapia podem extender seu acometimento \u00e0 \u00e1rea do pavilh\u00e3o auricular. Em casos graves, quando a pele da regi\u00e3o auricular n\u00e3o apresenta condi\u00e7\u00f5es de receber um arcabou\u00e7o cartilaginoso, a reconstru\u00e7\u00e3o de orelha \u00e9 contra-indicada. Nesses casos, pode-se optar pelo uso de pr\u00f3teses externas implant\u00e1veis, feitas sob medida para o paciente. Ver o t\u00f3pico Anaplastologia, localizado anteriormente nesta p\u00e1gina.<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

Anatomia normal de uma Orelha A anatomia de superf\u00edcie da orelha \u00e9 complexa, com eleva\u00e7\u00f5es e depress\u00f5es respons\u00e1veis pelo seu contorno caracter\u00edstico. Os componentes principais da orelha s\u00e3o: helix (curvatura maior e mais externa), anti-helix (eleva\u00e7\u00e3o interna que se ramifica em cruz superior e cruz inferior), escafa (que \u00e9 a fossa entre a helix e […]<\/p>\n","protected":false},"author":1,"featured_media":186,"comment_status":"closed","ping_status":"open","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"_seopress_robots_primary_cat":"","_seopress_titles_title":"","_seopress_titles_desc":"","_seopress_robots_index":"","footnotes":""},"categories":[86],"tags":[],"class_list":["post-1640","post","type-post","status-publish","format-standard","has-post-thumbnail","hentry","category-orelha"],"_links":{"self":[{"href":"https:\/\/clariceabreu.com.br\/pt_br\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/1640","targetHints":{"allow":["GET"]}}],"collection":[{"href":"https:\/\/clariceabreu.com.br\/pt_br\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/clariceabreu.com.br\/pt_br\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/clariceabreu.com.br\/pt_br\/wp-json\/wp\/v2\/users\/1"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/clariceabreu.com.br\/pt_br\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=1640"}],"version-history":[{"count":0,"href":"https:\/\/clariceabreu.com.br\/pt_br\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/1640\/revisions"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/clariceabreu.com.br\/pt_br\/wp-json\/"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/clariceabreu.com.br\/pt_br\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=1640"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/clariceabreu.com.br\/pt_br\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=1640"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/clariceabreu.com.br\/pt_br\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=1640"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}