{"id":1642,"date":"2017-01-20T23:15:18","date_gmt":"2017-01-21T01:15:18","guid":{"rendered":"https:\/\/www.clariceabreu.com.br\/?p=1642"},"modified":"2025-08-12T23:22:00","modified_gmt":"2025-08-12T23:22:00","slug":"fratura-de-nariz","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/clariceabreu.com.br\/en\/fratura-de-nariz\/","title":{"rendered":"Fratura de Nariz"},"content":{"rendered":"

O nariz apresenta uma posi\u00e7\u00e3o proeminente na regi\u00e3o central da face, sendo o local mais frequente de fraturas da face. Sua estrutura piramidal apresenta elementos \u00f3sseos e cartilaginosos interconectados, fornecendo suporte e ao mesmo tempo proje\u00e7\u00e3o para o nariz. Os elementos \u00f3sseos incluem os ossos pr\u00f3prios do nariz, que s\u00e3o relativamente finos, o processo nasal do osso frontal, os processos frontais da maxila, ou seus ramos montantes, e os ossos do septo, que incluem o v\u00f4mer e a l\u00e2mina perpendicular do osso etm\u00f3ide. J\u00e1 a parte cartilaginosa \u00e9 formada pelas cartilagens triangulares (laterais superiores), pelas cartilagens alares (laterais inferiores) e o septo (cartilagem quadrangular).<\/p>\n\n\n\n

A pele do nariz \u00e9 fina e m\u00f3vel em sua regi\u00e3o superior, se tornando gradativamente mais espessa e aderida na ponta nasal, onde se concentram gl\u00e2ndulas seb\u00e1ceas. Sua irriga\u00e7\u00e3o \u00e9 abundante, permitindo uma dissec\u00e7\u00e3o segura e uma cicatriza\u00e7\u00e3o r\u00e1pida tanto dos tecidos moles quanto dos ossos.<\/p>\n\n\n\n

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Esquema da anatomia do nariz e de uma fratura nasal<\/figcaption><\/figure><\/div>\n\n\n\n

Tipos e localiza\u00e7\u00e3o das fraturas de nariz<\/strong><\/h2>\n\n\n\n

O tipo e a localiza\u00e7\u00e3o das fraturas de nariz est\u00e3o relacionados com o local do impacto, com a idade do paciente e com a dire\u00e7\u00e3o e a intensidade da for\u00e7a envolvida no trauma. Um impacto de dire\u00e7\u00e3o frontal acomete a regi\u00e3o do dorso nasal, podendo levar a uma les\u00e3o do septo nasal com perda da proje\u00e7\u00e3o do nariz, que \u201cafunda\u201d sobre a face. J\u00e1 as for\u00e7as laterais, relacionadas \u00e0 maioria dos casos de fraturas nasais, podem levar a in\u00fameras varia\u00e7\u00f5es de deformidades. Os pacientes mais jovens tendem a apresentar fragmentos maiores de osso fraturado, enquanto os pacientes mais idosos tendem a apresentar fraturas cominutivas (em pequenos fragmentos).<\/p>\n\n\n\n

Quando a intensidade da for\u00e7a \u00e9 grande, podem ocorrer m\u00faltiplas fraturas dos ossos nasais, com o comprometimento de outras estruturas da regi\u00e3o, como os ramos montantes da maxila, o osso lacrimal, as \u00e1reas etmoidais e at\u00e9 mesmo a regi\u00e3o orbit\u00e1ria.<\/p>\n\n\n\n

Classifica\u00e7\u00e3o das fraturas de nariz<\/strong><\/h2>\n\n\n\n

As fraturas nasais decorrentes de um impacto frontal foram classificadas por Stranc em tr\u00eas grupos, conforme a extens\u00e3o da \u00e1rea fraturada.  O tipo I corresponde \u00e0 fratura nasal que compromete apenas as regi\u00f5es distais dos ossos nasais e septo.  O tipo II corresponde a uma les\u00e3o mais extensa, envolvendo toda a parte distal dos ossos nasais e o processo frontal da maxila na regi\u00e3o da abertura piriforme. O septo tamb\u00e9m se fratura e geralmente perde sua proje\u00e7\u00e3o.  O tipo III de fratura nasal por impacto frontal corresponde a uma les\u00e3o que envolve um ou os dois processos frontais da maxila, se extendendo para o osso frontal,  caracterizando uma fratura nasoetmoidorbit\u00e1ria.<\/p>\n\n\n\n

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Classifica\u00e7\u00e3o de Stranc para fraturas de nariz. Tipo I: envolve a pir\u00e2mide nasal e a parte anterior do septo. Tipo II: atinge a base da pir\u00e2mide nasal e o septo mais posteriormente. Tipo III: se extende para a maxila e o osso frontal; corresponde a uma fratura nasoidorbit\u00e1ria.<\/figcaption><\/figure><\/div>\n\n\n\n

Diagn\u00f3stico da fratura de nariz<\/strong><\/p>\n\n\n\n

As fraturas de nariz s\u00e3o muito comuns e devem ser consideradas ap\u00f3s um trauma direto sobre o nariz.  O diagn\u00f3stico \u00e9 essencialmente cl\u00ednico, baseado na anamnese (hist\u00f3ria) detalhada e no exame f\u00edsico do paciente. O diagn\u00f3stico pode ser confirmado com exames de imagem apropriados.<\/p>\n\n\n\n

Diagn\u00f3stico Cl\u00ednico<\/strong><\/p>\n\n\n\n

A hist\u00f3ria de trauma envolvendo a regi\u00e3o do nariz \u00e9 fundamental no estabelecimento do diagn\u00f3stico.  A dire\u00e7\u00e3o do impacto e a sua intensidade devem ser questionadas e ajudam a entender a localiza\u00e7\u00e3o das fraturas. A presen\u00e7a de epistaxe (sangramento nasal), de intensidade vari\u00e1vel, costuma ser comum. A presen\u00e7a de dor local e obstru\u00e7\u00e3o nasal tamb\u00e9m s\u00e3o sintomas frequentes. \u00c9 importante avaliar uma foto antiga do paciente para detectar desvios e deformidades existentes antes do trauma.<\/p>\n\n\n\n

O exame f\u00edsico do paciente pode evidenciar sinais externos indicativos de fratura nasal, sendo o mais caracter\u00edstico o desvio do nariz. Outros sinais envolvem a presen\u00e7a de edema (incha\u00e7o) local, equimoses, feridas e lacera\u00e7\u00f5es, selamento (achatamento) do nariz e o telecanto traum\u00e1tico (aumento da dist\u00e2ncia entre os cantos mediais dos olhos).<\/p>\n\n\n\n

A palpa\u00e7\u00e3o da pir\u00e2mide nasal pode identificar degraus \u00f3sseos, com \u00e1reas de crepita\u00e7\u00e3o e pontos dolorosos. \u00c9 preciso ainda investigar a cavidade nasal, para identifica\u00e7\u00e3o de poss\u00edveis obstru\u00e7\u00f5es nasais, fraturas ou desvios do septo, hematomas septais, lacera\u00e7\u00f5es da mucosa nasal e sangramentos ativos.<\/p>\n\n\n\n

Diagn\u00f3stico Radiol\u00f3gico<\/strong><\/p>\n\n\n\n

Os exames de imagem s\u00e3o secund\u00e1rios no diagn\u00f3stico de uma fratura nasal. Entre as diversas incid\u00eancias radiogr\u00e1ficas existentes, as mais indicadas para avalia\u00e7\u00e3o do nariz s\u00e3o: a incid\u00eancia de Caldwell (frontonaso), a incid\u00eancia de Waters (mentonaso) e a incid\u00eancia de perfil.<\/p>\n\n\n\n

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Esquema e exemplo da incid\u00eancia radiogr\u00e1fica de Caldwell (frontonaso)<\/figcaption><\/figure><\/div>\n\n\n\n
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Esquema e exemplo da incid\u00eancia radiogr\u00e1fica de Waters (mentonaso)<\/figcaption><\/figure><\/div>\n\n\n\n

No entanto, \u00e9 a tomografia computadorizada o exame de imagem mais sens\u00edvel e espec\u00edfico para o diagn\u00f3stico de uma fratura nasal, fornecendo uma vis\u00e3o definitiva do deslocamento dos ossos da pir\u00e2mide nasal e da cartilagem septal. Al\u00e9m disso, exclui a les\u00e3o de estruturas adjacentes, como a \u00f3rbita, o seio frontal e a \u00e1rea nasoetmoidorbital.<\/p>\n\n\n\n

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Tomografia computadorizada mostrando fratura nasal com pequeno deslocamento \u00f3sseo<\/figcaption><\/figure><\/div>\n\n\n\n

Tratamento da fratura de nariz<\/strong><\/h2>\n\n\n\n

A maioria das fraturas nasais s\u00e3o tratadas com uma redu\u00e7\u00e3o fechada, dita n\u00e3o cruenta<\/em>. Com efeito, o reposicionamento dos fragmentos \u00f3sseos deslocados pode ser realizado com a ajuda de f\u00f3rceps especiais, como o de Walsham (para os ossos nasais) e o de Asche (para o septo nasal).<\/p>\n\n\n\n

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Esquema do f\u00f3rceps de Walsham e redu\u00e7\u00e3o de fratura de nariz com o f\u00f3rceps<\/figcaption><\/figure><\/div>\n\n\n\n

O tratamento pode ser realizado de forma precoce, imediatamente ap\u00f3s o trauma, antes que se instale o edema local. Em geral, realizamos o tratamento tardio, ap\u00f3s 3 dias do trauma, dentro de um prazo at\u00e9 duas semanas. Com isso, esperamos que o edema local ceda, podendo visualizar melhor os fragmentos \u00f3sseos. Ap\u00f3s duas semanas, j\u00e1 se inicia a consolida\u00e7\u00e3o (cicatriza\u00e7\u00e3o) das fraturas e o tratamento passa a ser o de uma sequela. Em crian\u00e7as, o tempo de consolida\u00e7\u00e3o \u00e9 mais r\u00e1pido e o tratamento deve ser realizado dentro dos primeiros sete dias ap\u00f3s o trauma.<\/p>\n\n\n\n

Ap\u00f3s a redu\u00e7\u00e3o das fraturas, realiza-se o tamponamento das cavidades nasais para promover um suporte interno para os fragmentos \u00f3sseos que foram reposicionados. Al\u00e9m disso, utiliza-se um curativo externo com gesso ou material similar, para a imobiliza\u00e7\u00e3o externa da regi\u00e3o nasal.<\/p>\n\n\n\n

A redu\u00e7\u00e3o aberta, dita cruenta,<\/em> \u00e9 reservada para as fraturas cominutivas (em diminutos fragmentos) e em alguns casos selecionados de deformidade septal.<\/p>\n\n\n\n

Complica\u00e7\u00f5es precoces<\/strong><\/h2>\n\n\n\n

Uma fratura de nariz pode apresentar complica\u00e7\u00f5es agudas, dentre as quais destacamos o hematoma septal<\/strong>.  Quando h\u00e1 uma fratura acometendo o septo nasal, este pode sofrer sangramento atrav\u00e9s de les\u00e3o de seu mucoperic\u00f4ndrio. A presen\u00e7a de sangue no espa\u00e7o septal pode evoluir com a forma\u00e7\u00e3o de um tecido fibr\u00f3tico que, com o tempo, se organiza causando uma obstru\u00e7\u00e3o nasal. Se a press\u00e3o do hematoma sobre a cartilagem do septo for excessiva, ela pode ocasionar o sofrimento da cartilagem, com sua consequente necrose. Isso, por sua vez, leva a uma perfura\u00e7\u00e3o septal, de modo que o nariz pode perder sua sustenta\u00e7\u00e3o e evoluir para um nariz selado (achatado). Quando diagnosticado um hematoma septal, ele deve ser imediatamente drenado e tratado, para evitar sua evolu\u00e7\u00e3o desfavor\u00e1vel.<\/p>\n\n\n\n

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Esquema de um hematoma septal n\u00e3o diagnosticado, evoluindo com reorganiza\u00e7\u00e3o cartilaginosa<\/figcaption><\/figure><\/div>\n\n\n\n

Outra complica\u00e7\u00e3o aguda que pode ser destacada \u00e9 o sangramento (epistaxe) nasal persistente<\/strong>. Em geral, o sangramento nasal que acompanha uma fratura de nariz \u00e9 expressivo em um primeiro momento, mas tende a ser facilmente controlado com a eleva\u00e7\u00e3o da cabe\u00e7a do paciente, compress\u00e3o local e gelo. Quando persiste, deve ser feito o tamponamento nasal anterior e controle da press\u00e3o arterial. Em alguns casos em que o tamponamento anterior n\u00e3o \u00e9 suficiente, recorre-se ao tamponamento nasal posterior. Raramente h\u00e1 necessidade de ligadura de car\u00f3tida externa.<\/p>\n\n\n\n

Complica\u00e7\u00f5es tardias<\/strong><\/h2>\n\n\n\n

Uma fratura de nariz pode evoluir desfavoravelmente, resultando em complica\u00e7\u00f5es tardias. Dentre elas destacamos:<\/p>\n\n\n\n

Desvio nasal (laterorrinia): quando uma fratura nasal ou septal n\u00e3o \u00e9 tratada adequadamente ou seu diagn\u00f3stico passa despercebido, pode-se evoluir gradativamente para um desvio do septo ou mesmo da pir\u00e2mide nasal. O tratamento, nesses casos, envolve a refratura da parte \u00f3ssea que esteja desviada e seu realinhamento posterior, bem como uma septoplastia para corre\u00e7\u00e3o de desvios septais.<\/p>\n\n\n\n

Obstru\u00e7\u00e3o nasal: pode ser decorrente de um hematoma septal n\u00e3o diagnosticado, de uma redu\u00e7\u00e3o inadequada das fraturas \u00f3sseas, de sin\u00e9quias (ader\u00eancias da mucosa nasal) ou retra\u00e7\u00e3o cicatricial de uma lacera\u00e7\u00e3o de mucosa.<\/p>\n\n\n\n

Deformidade em sela: causada pela perda de suporte do dorso nasal, geralmente associada a les\u00f5es do septo. Sua corre\u00e7\u00e3o exige uma rinoplastia com a realiza\u00e7\u00e3o de enxertos de cartilagem para reconstru\u00e7\u00e3o do dorso do nariz.<\/p>\n\n\n\n

Aumento da dist\u00e2ncia entre os olhos (telecanto traum\u00e1tico): quando a fratura nasal se extende at\u00e9 a regi\u00e3o do processo nasal da maxila, levando \u00e0  fragmenta\u00e7\u00e3o desse segmento, o ligamento cantal (ligamento que sustenta o canto interno dos olhos) pode se deslocar ou se desinserir, levando a um aumento da dist\u00e2ncia entre os cantos internos dos olhos. A sua corre\u00e7\u00e3o exige a redu\u00e7\u00e3o adequada da fratura e a reinser\u00e7\u00e3o do ligamento.<\/p>\n\n\n\n

Lacrimejamento (ep\u00edfora): quando o paciente persiste com lacrimejamento ap\u00f3s uma fratura nasal, deve-se suspeitar de lesal do ducto nasolacrimal decorrente da fratura. O tratamento envolve investiga\u00e7\u00e3o e realiza\u00e7\u00e3o de dacriocistorrinostomia.<\/p>","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

O nariz apresenta uma posi\u00e7\u00e3o proeminente na regi\u00e3o central da face, sendo o local mais frequente de fraturas da face. Sua estrutura piramidal apresenta elementos \u00f3sseos e cartilaginosos interconectados, fornecendo suporte e ao mesmo tempo proje\u00e7\u00e3o para o nariz. Os elementos \u00f3sseos incluem os ossos pr\u00f3prios do nariz, que s\u00e3o relativamente finos, o processo nasal […]<\/p>","protected":false},"author":1,"featured_media":198,"comment_status":"closed","ping_status":"open","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"_seopress_robots_primary_cat":"","_seopress_titles_title":"","_seopress_titles_desc":"","_seopress_robots_index":"","footnotes":""},"categories":[11],"tags":[],"class_list":["post-1642","post","type-post","status-publish","format-standard","has-post-thumbnail","hentry","category-cirurgia-plastica"],"_links":{"self":[{"href":"https:\/\/clariceabreu.com.br\/en\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/1642","targetHints":{"allow":["GET"]}}],"collection":[{"href":"https:\/\/clariceabreu.com.br\/en\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/clariceabreu.com.br\/en\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/clariceabreu.com.br\/en\/wp-json\/wp\/v2\/users\/1"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/clariceabreu.com.br\/en\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=1642"}],"version-history":[{"count":0,"href":"https:\/\/clariceabreu.com.br\/en\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/1642\/revisions"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/clariceabreu.com.br\/en\/wp-json\/"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/clariceabreu.com.br\/en\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=1642"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/clariceabreu.com.br\/en\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=1642"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/clariceabreu.com.br\/en\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=1642"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}